quinta-feira, 20 de maio de 2010

A costura do invisível



Em um determinado momento da carreira de Jum Nakao, ele começa a refletir sobre a sua vocação, a sua essência e sobre qual o valor de uma ideia, onde e porque haver conquistas de territórios. Diante desta situação, ele se vê diante de uma crise em sua carreira profissional, e se depara com um imenso vazio, o que o leva a buscar respostas para tantas dúvidas, questionando uma série de problemas, com o intuito de reagir a um mercado tão capitalista.

Foi aí que ele teve a ideia de criar uma coleção de papel, para que fosse algo diferente, inusitado e no final todas as peças seriam destruídas, respondendo aos seus questionamentos, mas isso para ele não seria o fim e sim o começo da destruição do caos que ele vivia em cada estação onde tinha que criar novas tendências.

Ele queria que esta criação em papel fosse algo precioso para gerar um deslumbramento nas pessoas, a ponto de elas desejarem cada peça. Para isso, ele se inspirou nas roupas do final dos Séculos XIX e XX, onde foi uma época em que as peças eram extremamente elaboradas e preciosas, devido ao estudo volumétrico destas e das texturas, e por elas serem bem trabalhadas, havendo uma relação meio barroco, mas de forma bem leve como se fossem uma obra de arte, para que no momento em que fossem destruídas gerasse um grande vazio e angústia no público e aquele momento ficasse apenas na memória.

O papel usado para montar as peças seria o papel vegetal, porque com ele seria possível definir não só uma forma, mas enxergar através da forma deste papel, a sutil transparência e leveza que ele daria as roupas.

Para gerar um certo encantamento, ele criou as perucas inspiradas nas fadinhas Playmobil, como um elemento lúdico, com o intuito de fazer as pessoas se distanciarem de um mundo real e entrarem em um conto de fadas, onde elas poderiam se enxergar dentro de cada peça e se identificar com parte de seu universo, valorizando o conceito da roupa, o objeto do desejo.

As gravações dos relevos nos papéis foram feitos por uma empresa especializada, e para filetar e rendar cada modelo, foi utilizada a tecnologia a laser para que tudo ficasse o mais impecável possível e gerasse dúvidas no público, a fim de que só no momento da destruição das peças fosse revelado o seu trabalho. Para o cenário seria usado o papel vergê, pelo fato de que ele reagiria à luz, dando a sensação de que as anêmonas criadas estivessem vivas.

O papel vegetal implicava em várias dificuldades técnicas, pelo fato de como seria costurado e colado. Para a construção das peças, ele desenvolveu um manual de procedimento específico para cada peça e contou com a ajuda de uma equipe especializada em projetos especiais.

Toda construção e divulgação das peças foram feitas de uma forma bem sigilosa, para haver uma certa desinformação e manter o impacto do seu trabalho como uma conspiração em gerar uma falsa verdade. Foi apenas divulgado que estavam fazendo uma coleção baseada nos Séculos XIX e XX, em um universo lúdico, que era branco e que os tecidos eram bordados e bem trabalhados, mas sem revelar que era de papel, porque era fundamental criar uma certa surpresa, revelação e tensão nas pessoas, com algo que era desconhecido.

Todas as músicas, bem como a iluminação foram bem elaboradas, a fim de que a cada olhar gerasse um novo significado, transmitindo um ar de melancolia, porém, mantendo um ar clássico, e, ao mesmo tempo, no final do desfile o barulho do estrondo transmitisse um impacto de destruição nas pessoas.

Tudo foi produzido de uma forma estratégica, com o objetivo de que o público não percebesse que as peças seriam destruídas e que a reação das pessoas fosse a mais forte e espontânea possível. Além disso, gerar um imenso vazio nas pessoas, como um sentimento de perda, tentando passar algo que ele estava sentindo, e de que todo aquele deslumbramento e beleza que o público estava contemplando, ficaria apenas na memória.





Nenhum comentário: